As ordens de cavalaria e as artes marciais
Esse texto são anotações minhas feitas durante uma palestra que assisti de um filósofo. São palavras dele e meu conseqüente desenvolvimento sobre o tema abordado.
Existe uma
essência das artes marciais que esteve presente em todas as tradições marciais. Foi inicialmente todo
sistematizado no oriente. Eles viam o universo como um biocosmo onde existia
uma vitalidade, movimento e forma. No oriente tentaram sistematizar de modo
harmônico. O homem marcial tinha uma intuição que essa chispa divina que está
fora, também está dentro de si. Através dessa essência do universo nasce à
dualidade, a matéria. Nas tradições antigas as guerras tinham um sentido
simbólico, fazendo com que as coisas caminhem. Diferente de hoje. Existem dois
tipos de mudança: a da guerra e a da educação. A guerra é menos eficaz, mas não
menos importante, é uma visão de mudança a curto prazo; e a educação é uma
visão de mudança a longo prazo e mais eficaz. O universo está sempre em guerra,
declarada ou não. A palavra marcial vem do Deus latino Marte, que é o Deus da
guerra, que é o mesmo Deus Áries da mitologia grega. Cada um desses princípios
existe um significado. Marte quando se relaciona com Afrodite, Deusa do amor,
gera fobia e depois a harmonia. O homem marcial tenta ver os princípios da
natureza dentro dele e vice-versa. Também tenta ver seus princípios na natureza
e para isso é necessário que trave o conflito consigo mesmo, com seus vícios
medos, orgulho... Imagine vários princípios que vão expressar um único
princípio como na forma piramidal de quatro faces, com uma base aonde todos os
pontos de encontro das linhas vão se encontrar no topo. As artes marciais
nasceram na Índia e se popularizou na China. Um exemplo dessa guerra interior
está no livro Bhagavad-Gitā., um livro hinduísta que é um diálogo entre Arjuna,
o guerreiro, e a divindade Krishna. Onde Krishna tenta convencer Arjuna a
lutar. Para que o monge budista expressasse o verdadeiro valor humano passava
por várias provas, dos quais muitos não passavam, e acabariam esses que não
passavam abrindo outras escolas de artes marciais e criando outros estilos. O
foco da arte marcial é conquistar a si mesmo, que o homem se harmonize com os
princípios universais, e nesse conflito vai se tornando cada vez mais
consciente. A semente para germinar tem que quebrar a casca, o pássaro para
nascer tem que quebrar o ovo, a mudança inicial gera um esforço que parece
sobre-humano, mas que é necessário que começar a nascer o homem novo dentro de
si. Para além dos instintos existem princípios superiores que vai trazer uma
harmonia entre seu modo de viver e a natureza. Quando se relaciona de forma una
com o universo, ele e o universo são uma só alma e o universo se posiciona a
ajudar o homem na caminhada da vida.
Com relação às
ordens de cavalaria, lembramos logo dos cavaleiros da távola redonda do rei
Artur, que era símbolo do cavaleiro ideal. Artur selecionou os melhores
cavaleiros para lutar aonde existir injustiça, ensinando e lutando pela
Justiça. Os antigos personificavam os princípios universais através das
divindades. O mistério do graal é que o rei e a terra são um só. O cavaleiro da
profecia, da décima terceira cadeira onde ninguém sentava, da távola redonda,
que era considerada a cadeira perigosa, consegue trazer o graal ao rei Artur e
estabelecer a ordem no reino em guerra. A forma do graal simboliza os três
mundos: o espiritual, o da psique e do corpo. E tentar harmonizar esses três
mundos é o destino de todos os cavaleiros. É aquela filosofia grega, corpo são
em mente sã. Nas ordens de cavalaria não era apenas mais uma cavaleiro, mas
passava por muitas provas e lutas chegando a se tornar um cavaleiro numa
cerimônia, com significado filosófico. O primeiro treinamento era da alma, e só
depois a parte técnica, marcial, só assim se tornaria escudeiro de um
cavaleiro, e só depois dos 21 anos se tonaria um cavaleiro, depois de muitas
lutas e batalhas externas e internas, consigo mesmo. A capa do cavaleiro
representava a virtude.
Em Esparta, um
dos principais objetivos do guerreiro espartano era defender seu próximo como a
si mesmo. Os espartanos pensavam como uma grande família, que era a cidade de
Esparta e seus guerreiros. As mulheres espartanas recebiam educação semelhante
ao homem espartano, pois os espartanos diziam que para gerar filhos fortes,
tinham que ter mulheres fortes. Porém existia uma diferença sutil na educação
de homens e mulheres, pois cada um tem sua natureza própria de homem e mulher.
O homem mais duro, e a mulher mais delicada, mas como disse, mesmo assim
recebiam educação semelhante. No Japão, tinha um código que inicialmente era
transmitido de forma oral e depois foi escrito, que era o bushido. Eles
aprendiam arte, música, poesia, arco e flecha além de outras técnicas marciais.
Um bom exemplo de guerra por princípios e do guerreiro ideal, foi a guerra
travada na Índia há milênios atrás para conquistar a cidade de Hastinapura, que
significa cidade do elefante. O elefante na Índia é símbolo da sabedoria, pois
tem orelhas grandes e boca pequena por que ouve mais do que fala, olhos
pequenos para o mundo material e mais para o metafísico, o peso da sabedoria e
leveza de deixar um formigueiro passar. E o rugido do elefante chama todo o
grupo de elefantes para serem guiados, assim como a palavra do sábio leva
consigo muito discípulos a serem guiados pela sabedoria. Então, a guerra foi
entre os Pandavas, que eram filhos de Deuses com mortais e simbolizava os
princípios idéias que o homem deveria ter, como justiça, coragem, força,
paciência, sabedoria... E os Kuravas eram os inimigos e em maior número. Assim
é nossa lutar interna, os defeitos estão em maior número, mas temos que lutar
para vencer para conquistar a sabedoria.
No Mahabharata,
que é um livro hindu onde está travada essa guerra, tem um pequeno livro que se
chama Bhagavad-Gitā, que é o diálogo entre o pandava Arjuna, que simboliza a
coragem e a divindade Krishna. Arjuna antes de iniciar a guerra vacila e se
perguntar por que lutar contra os kuravas que eram parentes dos pandavas e que
cresceram com os pandavas e foram criados pelos mesmos mestres. Assim são
nossos defeitos que crescem com nós e chega a um certo ponto da vida que
vacilamos e hesitamos em lutar contra nossos defeitos por achar que os defeitos
fazem parte de nós. Nesse pequeno livro Bhagavad-Gitā Krisnha num diálogo
fenomenal sobre a vida, morte e eternidade, convence Arjuna a iniciar a guerra
contra os kuravas que estão em maior número. Interessante é que depois da
guerra, quando os pandavas vencem, um dos pandavas vai à caminhada até o que os
budistas chamam de nirvana, que não é um lugar, mas um estado de espírito, e lá
esse pandava encontra todos os kuravas num banquete esperando por ele.
Como se a vida
fosse um teatro de máscaras onde todos representam algo, mas que no final todos
se encontram.
Autor: Victor da Silva Pinheiro
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