Lectio Divina –
Aula 6 – Sagradas Escrituras
Comunidade Doce
Mãe de Deus, Missão Bessa, da cidade de João Pessoa, capital do estado da
Paraíba, Brasil.
Contemplar é uma ação divina no homem, que é o tema
dessa última aula da lectio divina. Contemplar é um abandono nas mãos de Deus.
É entrega, é sacrifício com misericórdia. Lembrei o poeta português Luís Vaz de
Camões, que diz sobre o amor: “É um estar-se preso por vontade; (...) É cuidar
que se ganha em se perder.” Como ouvi numa ópera, como se Deus estivesse
falando para mim, o seguinte: “Eu Sou divino; Eu Sou o esquecimento; Eu Sou o
amor.”
Contemplar
é desbravar terras hostis. A lectio divina é a contemplação das graças de Deus.
É ir para os párias, os marginalizados. É conviver, aprender e ensinar a esses
párias, marginalizados. A contemplação é o que dar sentido a lectio divina. No
Evangelho Segundo Lucas, capítulo 10, versículo 42, Jesus diz: “... Maria, com
efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.” Essa Maria era a
irmã de Marta e Lázaro, aquele mesmo que Jesus ressuscitou. Essa passagem é a
parte final em que Jesus vai visitar essas irmãs; Marta, que cuida da casa, e
Maria, que se predispõe a ouvir a Sabedoria. Jesus quis dizer que podem nos
tirar a família, a liberdade e até a vida, mas não nos podem tirar a Sabedoria.
Às vezes, pela falta de prática contemplativa, não percebemos a divindade no
dia-a-dia. Quem tem prática e experiência contemplativa ver Deus tanto na selva
de pedra, que é a civilização, como ver na selva natural. O episódio das irmãs
Marta e Maria nos quer dizer que mesmo com a lida diária, com o trabalho de
todo santo dia, devemos dedicar um momento no dia para a religião, e com a
prática contemplativa, ver a divindade para além do bem e do mal. Pois, como
disse o filósofo Nietzsche: “Aquilo que se faz com amor, faz-se sempre para
além do bem e do mal.” E João Evangelista diz: “Deus é amor.”
A vida
interior é aplicar a palavra divina no dia-a-dia. A vida contemplativa vai ti
transformar em uma nova criatura. E, dependendo de sua evolução, reconhecerás o
homem como imagem e semelhança de Deus. Devemos silenciar as vozes do mundo, e
ouvir a voz do silêncio. O uirapuru, um pássaro da floresta amazônica, só canta
uma vez no ano, e só canta quando toda a floresta silencia. É quando através
dos 5 sentidos, começamos a perceber a divindade até no momento mais rude e
terreno das nossas vidas. Assim sendo, chegarás ao sexto sentido e verás as
coisas como elas realmente são.
Só há
amadurecimento da fé se há comprometimento. Treinamento é bom e necessário, mas
mais importante é a vontade, que é um desejo mais apurado. Foi através de uma
vontade sublime que Jesus fez o que fez. O primeiro passo é arriscar, se
abandonar em Deus, e desbravar terras hostis. Deus não cabe na nossa cabeça. O
que conhecemos de Deus é uma faísca, pois Deus habita num lugar em que a razão
não consegue compreender. Então, entra em cena a imaginação, a intuição, que
nos ajuda a roçar a divindade. Se eu falo a verdade, e você me contraria, não
contraria a mim, mas contraria a divindade. Pois, Jesus disse aos seus
discípulos no Evangelho Segundo Mateus, capítulo 10, versículo 20: “Por que não
sereis vós que falareis, mas o Espírito de vosso Pai é que falará em vós.” A
verdade não muda, o que muda é o mensageiro, a cultura, ou o jeito de falar. O
que muda é a cor da carta, não o conteúdo.
Uma espada
é formada no fogo extremo e no frio extremo; e é assim que se forma nosso
caráter: na perseguição, na dor, na tribulação e na bondade, no pequeno Céu.
Nosso caráter vai ser formado no bônus e no ônus. Nosso caráter vai ser formado
na tempestade e na bonança. Onde na tempestade, os raios são como estalos de
sabedoria que surgem e trazem luz. É como a voz de Deus que surge em meio a
trovoadas, que nos chama a atenção.
Jesus além
de dizer que nos amou, morreu por nós. E diz na escritura: “... e ele nos amou
ao extremo!” Contemplar é ter uma vida interior. Além de refletir, temos que
praticar. Para iniciar a lectio divina, é aconselhável ler os evangelhos e os
salmos. Pois, se partimos logo para outros livros do Antigo Testamento, fica
difícil contextualizar-lo sem ter experiência na lectio divina. Pois, requer um
maior aprofundamento, amadurecimento.
Autor:
Victor da Silva Pinheiro