VI Simpósio
Internacional de Geografia Agrária
VII Simpósio
Nacional de Geografia Agrária
I Jornada de
Geografia das Águas
João Pessoa, PB,
Brasil
22 a 26 de
Setembro de 2013
Universidade
Federal da Paraíba – UFPB
Trabalho de Campo no Brejo Paraibano
Numa turma de
dezenas de alunos, professores e curiosos, formos todos para o Memorial das
Ligas Camponesas, em Sapé, que era a antiga casa de João Pedro Teixeira e sua
esposa Elizabeth Teixeira e família. As Ligas Camponesas cresceram mais na
Paraíba, mais especificamente na cidade de Sapé, onde chegou a ter 12 mil
membros. Elizabeth Teixeira falava até de 16 mil membros, segundo o orador que
nos recebeu no Memorial. João Pedro Teixeira, Nêgo Fuba e Pedro Fazendeiro
foram importantes líderes da liga assassinados por causa da luta pela terra.
Pedro Fazendeiro não tinha fazendas, recebeu esse nome por que fazia um tipo de
tecido diferente. João Pedro Teixeira sempre incentivava seus filhos a
estudarem. Ele sabia que o futuro estava nos estudos; e foi ele alfabetizado
pela esposa. Ele foi assassinado perto de casa, caindo sobre livros, uma
ironia, já que ele via o futuro nos estudos. É considerado um mártir da causa
agrária.
Com relação às Ligas Camponesas, essa ganhou proporções tamanhas que JK, nosso
ex-presidente Juscelino Kubitschek quis conhecer as Ligas. Dizem até que o
presidente dos Estados Unidos da América, John Kennedy, também planejava
conhecer de perto as Ligas, planejava ele visitar o Nordeste do Brasil. Depois
do Golpe de 1964, o Golpe Militar do Brasil, as Ligas Camponesas foram
arrasadas pelos militares. Onde este governo ditador fez até campanhas para
deturpar a imagem das Ligas Camponesas. Golpe Militar articulado também pelo
governo dos Estados Unidos da América, como bem mostrou o documentário “O dia
que durou 21 anos”. Articulou o governo dos Estados Unidos a ditadura
brasileira com o pretexto de evitar o avanço do comunismo na América Latina.
Com relação ao assassino
de João Pedro Teixeira, ele era suplente, de um suplente, de um suplente de
deputado. E cada um foi renunciando até chegar a ele, o assassino, e assim ele
assume como deputado e tem imunidade parlamentar. Elizabeth ao ser presa depois
de assumir a liderança das ligas, como já disse, por um milagre ela não morreu,
talvez por que tenha sido presa pelo exército e não pela polícia civil. Pois,
Nêgo Fuba e Pedro Fazendeiro também foram presos e soltos, como Elizabeth,
porém, eles foram presos pela polícia civil, e logo depois da soltura deles,
foram mortos. Ouvi ainda o orador falar que até hoje muitas pessoas da
comunidade em volta tem receio de falar sobre o assunto, talvez por medo
herdado da época da ditadura militar. Em volta da casa de Elizabeth, aconteciam
às vezes tiroteios, e com a prisão de Elizabeth, mais o terrorismo psicológico
dos tiroteios, fizeram a filha mais velha dela se matar.
Em volta da casa
ainda existe uma comunidade que precisa de melhorias. Lembrou os oradores que
não adianta tombar a casa como Museu, Memorial, e receber turistas de outros
países, se a comunidade em volta não melhorar. A comunidade em volta tem que
ter melhores condições de vida. Há décadas atrás, trabalhadores chegavam a
trabalhar de graça, e de insatisfações como essas, nasceu as Ligas. Uniu a esse
movimento o carisma de um líder, João Pedro Teixeira, que arrastou multidões de
trabalhadores rurais. Segundo um dado fornecido na conversa, por volta de 3500
lideranças camponesas foram assassinadas no início da ditadura militar.
Qual foi o
legado das Ligas? Trouxeram relativo desenvolvimento a Sapé, por influência das
Ligas, há bancos lá, e foi construído um hospital. E atualmente está em
encaminhamento o surgimento de uma escola agrícola.
(...)
À tarde formos a
um lugar entre as cidades de Duas Estradas e Serra da Raiz, conhecer o Engenho
Imaculada Conceição, onde se produz a cachaça Serra Limpa. O dono, e seu filho,
fazem um trabalho diferenciado dos outros engenhos, desde o corte da cana, do
trato com os bois para trazerem a cana, da higienização, do cuidado com os
trabalhadores, tudo é detalhadamente pensado para priorizar não a quantidade,
mas a qualidade. Ele aprendeu isso depois de longa conversa com um especialista
na área há anos atrás. Tornando assim um Engenho diferenciado. Por causa desse
preparo diferenciado da cachaça Serra Limpa, a torna uma das melhores cachaças
de todo a região, e talvez até do Brasil.
Nessa viagem
conheci gente de outras regiões do país e até de fora do Brasil, como do
Paraguai e de Moçambique. Todos faziam parte do trabalho de campo e estavam
participando do Simpósio Internacional de Geografia Agrária, o Singa 2013, na
UFPB – Universidade Federal da Paraíba.
Autor: Victor da Silva Pinheiro