Diálogo entre Sarah Cristã e Severino Pagão: Sobre a Reencarnação
Esse texto são
anotações minhas feitas durante uma palestra que assisti de uma filósofa. São
palavras dela e meu conseqüente desenvolvimento sobre o tema abordado.
- Biu, a filosofia trabalha com possibilidades. O homem filósofo não tem medo do novo.
Já o homem dogmático esta preso ao que considera “verdade” fechando sua mente.
- Pois é Sarah, no ocidente o termo reencarnação se tornou polêmico, mas nem sempre foi assim.
A filosofia te dá ferramentas para chegar à sabedoria. A religião considerada a
mais antiga da humanidade é o hinduísmo. E boa parte da base das religiões
vigentes se baseou no livro hindu dos Vendas. O hinduísmo prega a reencarnação.
O budismo também. O Livro dos Mortos Tibetanos, o Bardo Todol, fala dessa
passagem desta vida para a vida após a morte. Morre o corpo, mas a vida
continua. A alma é imortal, segundo Platão. O mitraísmo, da região da antiga
pérsia, também falava de reencarnação. Os 3 reis magos da bíblia, eram
astrólogos e astrônomos. Na Antiguidade, astrologia e astronomia eram estudadas
juntas. A astrologia ligada mais ao lado psicológica, estudava o por que; e a
astronomia ligada mais ao lado da matemática, das leis, estudava o como.
Então, esses reis eram sacerdotes do mitraísmo, da região da Pérsia, que se
guiando através da estrela de Belém, foi ao encontro, pelo deserto, de um
grande mestre que acabava de nascer: Jesus Cristo. Os 3 presentes dos 3 reis
magos, o ouro, incenso e mirra, simbolizam que estava nascendo um homem de
ouro, uma divindade, e que sofreria, já que a mirra é uma erva amarga, e o
incenso era dedicado aos deuses entre os pagãos. O taoísmo também acreditava em
reencarnação. Assim como o confucionismo. Todas essas religiões falam de um
sopro de vida que volta através de diversas reencarnações.
- Apesar de eu não acreditar em reencarnação, sei um pouco do simbolismo: o fogo é símbolo
do espírito, pois está sempre na posição vertical e tem sua qualidade de
transmutação. Já a água é símbolo da matéria, pois está sempre na horizontal. Por isso diz no livro do Gêneses na bíblia: "E o Espírito de Deus pairava sobre as águas".
- As religiões pré-colombianas (Asteca, Maia e Inca), também acreditavam em
reencarnação. No Antigo Egito, quando uma pessoa morria, o Deus Anúbis, o Deus
chacal, levava essa alma para um lugar para pesar numa balança seu coração com
a pena da Deusa Maat. Se o coração pesasse mais do que a pena, essa pessoa
tinha que voltar a reencarnar. Pois para um coração pesar menos do que uma pena
tem que ter em sua totalidade aspectos espirituais, se tivesse algum aspecto
material, se estivesse ainda ligado a algum aspecto material, é por que tinha a
necessidade de viver a experiência material aqui nesse nosso mundo. A antiga
religião grega, a religião órfica, também falava em reencarnação. Os romanos
também. Já no judaísmo, essa religião era dividida em 3 grupos: fariseus,
saduceus, e essênios. Há fortes indícios que José, pai de Jesus, e o próprio
Jesus, eram essênios. E os essênios acreditavam em reencarnação. Assim como
Jesus e os apóstolos.
- Já essa sua informação não tem na bíblia, e eu creio na bíblia.
- Pois bem, os essênios viviam na periferia de Jerusalém, numa vida
monástica. As religiões indígenas, africanas, americanas, também acreditavam em
reencarnação. Uma das interpretações errôneas sobre a reencarnação é acreditar
que o homem voltaria a reencarnar como animal ou vegetal. O homem não retrocede
a tal ponto de reencarnar em animal ou vegetal. Quando na Índia se dizia que
nasceria um homem com cabeça de elefante, queria dizer que nasceria um sábio,
pois o elefante na Índia é símbolo da sabedoria: tem orelhas grandes e boca
pequena, pois mais escuta do que fala, tem o peso do saber que faz a terra
tremer, e a leveza de deixar um formigueiro passar, e ao grito da matriarca, da
líder, todos os outros elefantes a seguem, como seguem os sábios ao esse sábio
ensinar. No Antigo Egito, um homem com cabeça de chacal queria dizer que
nasceria um homem que veria a corrupção em volta com mais facilidade, pois o
chacal ver no escuro, como o gato. Platão fala que em épocas materialistas, o
homem perde essa visão simbólica, as religiões decaem, e as mitologias se
esvaziam. Isso acontece tanto no ocidente quanto no oriente. O sacerdote
cristão Orígenes de Alexandria, que era neoplatônico, já falava em
reencarnação. Não eram raros os cristãos na época do cristianismo primitivo que
acreditavam em reencarnação. O termo reencarnação foi tirado da bíblia no
concílio de Constantinopla, no ano 553. Está registrado. Dizem que a mulher de
certo imperador mandou matar as mulheres que conheciam seu passado sombrio
antes de se tornar mulher do imperador, e o povo dizia que por causa disso ela
reencarnaria diversas vezes como uma mulher devassa. Então o imperador que
também mandava na igreja mandou tirar o termo reencarnação da bíblia.
- Discordo, pois Jesus diz na bíblia: "Passará o Céu e a Terra, mas minha palavras não passarão."
- Mas é a verdade, Sarah... sobre a volta
de Elias como João Batista pode ser um forte indício de reencarnação. Assim
como também numa passagem da bíblia que pode ser interpretada de duas maneiras:
Jesus disse: “Em verdade vos digo, só entrará no Reino dos Céus aquele que
nascer de novo!” Esse nascer de novo podia estar ligado a uma próxima vida, ou
na vida presente se convertendo a praticar o cristianismo, a virtude, nascendo
já, agora, o homem novo.
- É óbvio que João é a volta de Elias como símbolo, acreditamos os cristãos, e não que seria a reencarnação. Já com relação a nascer de novo, é nascer ainda nessa vida, em espírito.
- Um dos
princípios da reencarnação é a evolução. A reencarnação é um presente da
natureza para continuarmos evoluindo e para pagar o karma negativo que geramos
em vidas passadas. Islamismo, judaísmo e cristianismo surgiram de uma mesma
fonte. São irmãos. Abraão não podendo ter filho com sua mulher, teve filho com
uma escrava, que se chamou Ismael. E Deus diz na bíblia sobre Ismael: “Farei de
ti uma grande nação!”. Depois, a mulher de Abraão, mesmo depois de avançada
idade, consegue ter um filho, que se chamou Isaac. Os árabes se consideram
filhos de Ismael, e os hebreus se consideram filhos de Isaac. E como disse
certa vez um dos doutores da igreja, todo bom cristão é um bom judeu.
- Concordo com essa frase que você disse: todo bom cristão é antes um bom judeu, como Jesus, porém, na bíblia diz em Hebreus que o homem só nasce uma vez, então, vamos agir e evangelizar até os confins da Terra, porque temos que viver o presente, se prepare para essa vida, que é um dom de Deus.
Sobre os
filósofos que acreditavam em reencarnação
- Uma vez perguntaram
a Sócrates: “De onde vêm os vivos?” e Sócrates respondeu com outra pergunta:
“De onde vêm os mortos?” E disseram: “Dos vivos”. Sócrates então completou:
“Então os vivos vem dos mortos.” Sócrates não deixou nada escrito, o que
sabemos hoje dele foi escrito pelos seus discípulos e foi repassado durante
séculos através da tradição oral. Ele discursava na Ágora, e deixava as pessoas
chegarem às respostas por mérito próprio, Sócrates era apenas aquele que guiava
as pessoas a chegarem às respostas. É a técnica que se chama maiêutica.
Sócrates dizia que tinha trabalho semelhante ao da sua mãe. Enquanto ela paria
pessoas, ele paria idéias, guiando pessoas às respostas. A perda da memória não
acontece depois da morte, mas quando voltamos a reencarnar. Segundo o mito
da reencarnação que Platão aborda no último capítulo da sua magnum opus “A
República”, as pessoas antes de reencarnar tomam a água do esquecimento. Alguns
bebem de mais, e outros de menos. Fala esse mito também que as pessoas querem
reencarnar como águias, leões, gatos... Não leve ao pé da letra, mas tente
entender de maneira simbólica. Querem essas pessoas reencarnar com as aptidões
desses animais, como Ulisses que quer reencarnar como águia. Mas o certo,
segundo Platão, é querer reencarnar como uma pessoa simples. E assim surgem os
heróis. Plotino e Orígenes, discípulos de Amônio Sacas, também acreditavam em
reencarnação e seguiam os ensinamentos de Platão. Inclusive, eles se diziam
platônicos. O termo neoplatônico surgiu séculos depois pelos pesquisadores.
Orígenes que era cristão, condenava essa imagem antropomórfica de Deus, pois
considerava Deus algo muito abstrato, metafísico e elevado para ser limitado
por essa forma. Orígenes de Alexandria foi expulso de sua cidade pelos cristãos
e foi perseguido e morto pelos romanos. Outro filósofo que acreditava em
reencarnação era Giordano Bruno. Um filósofo já no final da idade média.
Perseguido pela igreja católica foi posto num calabouço por 7 anos com o
objetivo de deixá-lo louco, mas cada vez que iam checar se estava louco, ele
estava mais lúcido. Então, depois de sete anos, decidiram então queimá-lo vivo.
Giordano Bruno disse que os seus acusadores e carrascos, que esses tremiam mais
no momento de sua sentença final, do que ele ao ouvir a sentença final. Pois
Giordano Bruno acreditava que a alma era imortal e não morreria. Na sua defesa
no julgamento da inquisição, Giordano Bruno deu aulas. Ele já acreditava na
teoria do heliocentrismo, que dizia que os planetas do sistema solar giravam em
torno do sol, e que o sol não é o centro do universo, apenas está na periferia
do universo.
- Concordo contigo nesse ponto: a alma é imortal, e sobre a idade média, a igreja já se desculpou oficialmente através do Papa.
- Ian Stevenson,
um psiquiatra da nossa era, professor da Universidade de Virgínia, nos Estados
Unidos, passou a vida toda estudando a reencarnação. Ele até evitava usar o
método da hipnose porque o paciente podia fantasiar. Helena Blavatsky, uma
filósofa russa, fundadora da sociedade teosófica, também falava da
reencarnação. Foi ela que disse que Jesus e os apóstolos acreditavam em
reencarnação, e que há na bíblia passagens que está explícita a teoria da
reencarnação. Ela pesquisou profundamente sobre isso. Ela foi à responsável por
trazer a filosofia tibetana para o ocidente. A tradição hindu fala que o
universo se expande até chegar a certo ponto que se contrai, e esse processo de
expansão e contração do universo que demora bilhões de anos, esse processo é
eterno. É a respiração de Brahma. Diz-se que quando o universo se contrai, o
homem só existe como espírito. E quando o universo volta a se expandir, o homem
passa a existir no mundo material.
- Eu imagino um gráfico X versus Y, Deus sempre
existiu como escala negativa, e depois da criação do universo, Deus passou a
existir em escala positiva.
- O que os hindus falam é semelhante ao que os
filósofos pré-socráticos falavam, e o que Nietzsche falou no século 19,
chamando essa teoria de teoria do eterno retorno. A natureza é cíclica, é só
observar as estações do ano. O dia é cíclico, todo dia há uma manhã, tarde,
noite e madrugada. Se a natureza é cíclica, e o homem está inserido na natureza,
o homem também é cíclico. A história se repete, mas não da mesma maneira, como
um espiral, e quando se chega à ponta do espiral, no fim da espiral, surge
outra espiral, que é o eterno retorno. Se um chegar a evoluir ao ponto de não
necessitar mais reencarnar, outro vai assumir o seu papel deixado na história.
Como os gregos diziam que a vida é um grande teatro de máscaras. O homem no mundo
material colhe essas sementes do saber para voltar ao mundo espiritual. Depois
de tanto girar esse ciclo, o homem está destinado a ir de encontro ao centro da
circunferência, onde está Deus. Há reencarnação também explica por que alguns
nascem com certas virtudes e aptidões e outros não. Como também explica por que
alguns nascem com certas deficiências. Se não fosse assim, Deus seria injusto,
ao dar certa aptidão a um e a outro não; deixando um com deficiência e outro
não. Nietzsche disse certa vez: “Prefiro um Deus justo, mesmo que a mão desse
Deus justo esteja contra mim, e não um Deus injusto, em que eu esteja entre os
protegidos desse Deus injusto.”
- Mas, Biu, ss pessoas são diferentes por que caminham por
caminhos diferentes. Pois temos o livre-arbítrio. Se um homem não necessitasse
evoluir para chegar à divindade, para que serve a existência na Terra? Como
disse Nietzsche na sua magnum opus “Assim falou Zaratustra”: “O que é de grande
valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim; o que se pode amar no homem é
ele ser uma passagem e um acabamento.”
- Hummm, lendo Nietzsche em Sarah... mas continuando: Assim como na
idade média era herético negar o espírito, na ciência hoje é herético afirmar o
espírito. A história saiu de uma extremidade, e foi a outra extremidade, como
um pêndulo. Diz uma corrente da história que estamos caminhando para uma nova
idade média: as estradas estão perigosas, as pessoas se fecham em condomínios
fechados (enquanto na idade média européia eram os castelos); excesso de
misticismo, seitas e fantasias; enquanto na idade média européia a igreja
ditava as regras, hoje é a ciência quem dita às regras. Uma das negações a
reencarnação diz que se reencarnação existisse lembraríamos de vidas passadas.
Mas se você leitor, não consegue lembrar da semana passada, por acaso você não
existia na semana passada? Se não lembramos porque tem um motivo. É necessário
o esquecimento. Siddharta Gautama, o Buda, na sua última prova antes de entrar
no nirvana, tinha que lembrar todas as suas vidas passadas. Dizem que isso é algo
tão assombroso para diversas pessoas, que só nesse estado de estar prestes a
entrar no nirvana, na iluminação, que o ser humano tem condições psíquicas de
saber de todas as suas reencarnações passadas. Um certo filósofo respondendo a
um questionamento por que não lembramos de vidas passadas, disse: “Por que não
temos muito o que lembrarmos." Outra filósofa
disse o seguinte: “Devemos lembrar aquilo que aprendemos e esquecer o quanto
foi o preço que pagamos para ter esse aprendizado.” Por que ela disse isso? Por
que se não nós nos tornaríamos seres humanos amargurados. Segundo a tradição
tibetana, o tempo certo para se passar na vida após a morte é 2000 anos, e só
depois de se purificar nesse tempo, é que se deve reencarnar. Porém, com a
explosão demográfica, tem gente reencarnando depois de décadas de suas mortes.
E assim, carregam consigo traumas de vidas anteriores que não deu tempo de
purificar. Em um dos casos de Ian Stevenson, uma menina tinha medo de carro por
que na vida passada foi atropelada por um. Outro caso mostrava uma criança que
sempre que via alguma cena de guerra na televisão ficava transtornado. Na tradição apócrifa de Judas, Jesus pede a Judas para entregar-lo para ser crucificado,
pois segundo Jesus, Judas Iscariotes era o apóstolo mais forte. Jesus disse que
Judas seria o responsável de entregar ao sacrifício o homem que aprisiona essa
alma, a alma de Jesus. Hoje fazemos um culto em torno do corpo, mas segundo
essa tradição, Jesus via além da matéria, além do corpo. Como já disse, o corpo
morre, mas a alma é imortal. Hoje não se sabe
do que o sol é feito, e como é seu processo de combustão constante, e isso por
que o sol está diante de nossos olhos e ainda temos essas dúvidas. Mas nem por
causa dessa dúvida sobre esse processo solar, não negamos a luz que vem do sol,
ela existe independente da especulação científica. Mesma coisa com a teoria da
reencarnação, mesmo a ciência ainda não chegando a consenso de como é esse
processo de reencarnação, não quer dizer que ela não exista. Tem um dito
popular que diz: “A mente é como um pára-quedas: só funciona quando se abre”.
Como diz Morfeu a Neo no filme Matrix: “Eu só quero libertar sua mente, Neo...
Mas eu só posso lhe mostrar a porta, é você que tem que atravessá-la. Livre-se
do medo, da dúvida e da descrença: liberte sua mente!” O homem que é fiel a si
mesmo, aos seus princípios, independente das circunstâncias, é o homem
indivisível, o individuo que Platão fala, o homem de ouro, onde há ouro no seu
coração e por isso ele não ver necessidade de procurar o ouro fora de
si. Com relação ao espiritismo, criado por Allan Kardec, teve como
principal objetivo trazer de volta para o ocidente a idéia da reencarnação.
- Porém eu continuarei com ideia cristã que temos essa vida para fazer ela nova, ainda nessa vida, independente de existir reencarnação ou não. Certa vez um filósofo me disse que não sabia se acreditava em reencarnação porque ainda não havia estudado profundamente. Então eu digo, sou cristã, mas estou aberta a ler sobre reencarnação, se existir, mudo meus conceitos, se não, continuo na religiosa saga cristã.
Autor: Victor da Silva Pinheiro