Dom Quixote: o que
podemos aprender com o herói de Cervantes?
Esse texto são
anotações minhas feitas durante uma palestra que assisti de uma filósofa de
Brasília. São palavras dela e meu conseqüente desenvolvimento sobre o tema
abordado.
O livro
clássico de Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha, tenta resgatar o
valor dos símbolos das ordens de cavalaria. Muito provavelmente o autor tenha
contado sua vida através de Quixote de uma maneira simbólica. A filosofia traz
de volta a visão simbólica dos livros sagrados, e não só aborda uma leitura
literal. Por causa das deturpações que os mitos sofrem por levarem ao pé da
letra os mitos e lidos de modo literal e não simbólico, Platão dizia que os
guardiões da cidade ideal não estavam preparados para ainda estudar os mitos.
Cervantes e sua família viajam muito durante a infância dele na Espanha, isso é
uma clara alusão a o Quixote, que faz várias viagens, e além do mais, Cervantes
começou a escrever seu livro aos 50 anos, e Dom Quixote começa suas aventuras
com 50 anos. Com 19 anos ele vai a Madri, e depois vai à Itália, e na Itália
tem o contato com os clássicos. Depois por cinco anos ele serve ao exército com
grande destaque. Ele diz que na sua vida dedicou-se a Marte, o Deus da Guerra
na mitologia greco-romana, e a Apolo, o Deus da cura, música e sol interior,
considerando a fase de Apolo mais complicada. Com as cartas de recomendação que
recebia, viu uma ótima oportunidade de voltar à Espanha, e na viagem de navio,
é seqüestrado por turcos, e passa cinco anos na Argélia, onde sempre tentava
fugir, e quando era pego, sempre escapava da morte. Por causa das cartas de
recomendação os turcos pensaram que Cervantes era alguém muito rico e pede
dinheiro em troca da liberdade dele. Depois desses cinco anos a família dele
junta o dinheiro e paga aos turcos que o libertam. Como na Espanha já existia
muitos soldados nas mesmas condições de méritos que Cervantes conquistou na
Itália, ele volta a ser soldado raso e depois deixa o exército.
Depois foi ser coletor de imposto e nessa profissão viaja
muito pela Espanha. É acusado de desviar verbas e é preso. Foi então que ele
começou a escrever o livro clássico dele. Depois foi provado que ele nada
roubou e ele foi solto. Depois de uns anos, ele publica outra parte do livro.
Agora a chave simbólica: na tradição hindu o homem é dividido em sete corpos,
quatro pertencentes à personalidade e mortal e três pertencentes ao eu
espiritual e imortal. O mais denso corpo é o físico, depois vem o energético,
depois o emocional, e depois a menta dos desejos. Daí constituída nossa
personalidade. Na parte divina vem o mente pura, depois a intuição e depois à
vontade ou a chispa divina, sem ela, tudo que vem abaixo não existiria. A dama
imaginária, Dulcinéia, são os sentimentos mais elevados de Dom Quixote, são os
sonhos de todo cavaleiro, essa parte pertence à intuição. Dom Quixote é a mente
altruísta, a mente pura, que vai a busca de ideais filosóficos. Sancho Pança
que inicialmente segue Dom Quixote por motivos interesseiros, é a mente dos
desejos, mas depois ele se torna o discípulo dos ideais que Dom Quixote lutava.
Todos os outros personagens pertencem à personalidade. O interessante é notar
os diálogos entre Sancho Pança e Dom Quixote, que são as duas mentes dialogando.
Um puxando para os interesses mais terrenos e a outra para os interesses
altruístas.
A primeira aventura de Dom Quixote é contra os moinhos de
vento, que representam os gigantes do nosso eu emocional que às vezes nos tenta
controlar. Lembre-se que Dom Quixote deixa sua vida aos 50 anos, e depois de
ler os clássicos literários das ordens da cavalaria, tem como objetivo
percorrer o mundo atrás de aventuras. E aventura vem do latim, e no latim quer
dizer: ir ao encontro ao seu destino. Ele vai num local para ser ordenado
cavaleiro, e depois ver a necessidade de ter um escudeiro prometendo a ele o
governo de uma ilha, esse escudeiro aceita a oferta, que é Sancho Pança. Depois
que Dom Quixote volta todo maltrapido da batalha contra os moinhos de ventos
que ele pensava ser gigantes, Sancho Pança o questionar por estar assim e ele
não demonstra fraqueza, pois o cavaleiro não tem que demonstrar fraqueza na
dificuldade. E Dom Quixote faz lembrar que o escudeiro não deve entrar na
batalha, e claro, Sancho Pança entende bem essa parte. Depois Dom Quixote
resolve ir ao encontro de Dulcinéia, e Sancho Pança já desconfiando que
Dulcinéia não existe resolve ir na frente na cidade dela e até lá pensa em
inventar alguma coisa para resolver essa situação. Ele ver três senhoras de
idade passando, sendo duas delas servas da do meio, passando a cavalo, e se
antecipa a elas e antes de elas passarem por Quixote, ele chega antes e diz que
está vindo Dulcinéia ao encontro com Quixote. Quixote assim como diz que foi um
encanto que fez os gigantes virarem moinho de vento, diz que foi o encanto a
Dulcinéia estar com a aparência de uma senhora de idade, maltrapida. O
interessante é que Sancho Pança que inicialmente se interessa pela mente dos
desejos, muita gente relaciona essa gente culta a essa mente, a mente concreta;
e culto, etimologicamente falando, vem de homem cultivado, aquele que cultiva
os valores e as virtudes, e Sancho Pança no final do livro, quando Dom Quixote
volta para casa e diz que nada das aventuras dele teve valor, Sancho Pança
insiste que teve valor mostrando que o discípulo não está olhando para o mestre
que está negando a própria vida, mas olhando a estrela.
O interessante no
livro é quando os dois encontram um duque e uma duquesa já na segunda parte do
livro, onde eles citam que um tal de Cervantes andou escrevendo sobre eles, e
esse duque e duquesa dão uma ilha para Sancho Pança governar, mas tudo
combinado pra ser em tom de brincadeira sem Sancho Pança saber. Um dos
julgamentos que Sancho Pança faz como governador da ilha é de uma mulher que
aparece a ele aos berros dizendo que foi abusada por um homem, e esse homem, a
pedido de Sancho Pança, conta a versão dele, que encontrou com essa mulher,
combinou um preço e teve relações com ela, e ela vendo que ele tinha muito mais
dinheiro e não quis dar ela inventou essa história. E Sancho Pança então
pergunta ao homem: “Você tem mais dinheiro?” e ele diz que tem, e Sancho Pança
pede para ele dar a mulher e a mulher aceita e vai embora. Depois Sancho Pança
pede para o homem tomar o dinheiro de volta, e a mulher volta agarrada ao
dinheiro e Sancho Pança pede o dinheiro e dar ao homem e diz a mulher: “Se esse
homem lhe tivesse abusado, você se defenderia tão bem seu corpo quando defendeu
esse dinheiro e ele não lhe teria feito nada”. Depois no livro, Sancho Pança
desistiu de ser governador e as pessoas sentem falta dele, pois foi o único
governador mais justo da ilha. Só para finalizar: “Um cavaleiro sem dama, é
como um corpo sem alma!”
Autor: Victor da Silva Pinheiro
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