Matrix e o mito da caverna de Platão
Morfeu, Trinity e Neo fazem parte de uma trindade. Onde Morfeu
é o mestre, o eu espiritual, o equilíbrio espiritual; Trinity é a psique, o
nosso eu humano, o equilíbrio mental e emocional, a artista por natureza, onde
ela demonstra essa arte na sua luta; e Neo é o discípulo, o equilíbrio físico e
energético, o guerreiro, o nosso eu animal. E como todo discípulo em potencial,
que futuramente virá a ser mestre, já tem 7 discípulos para aprender com eles e
ele, Neo, os ensinar, são os 7 tripulantes da nave além de Morfeu: Apoc,
Switch, Dozer, Tank, Mouse, Cypher e Trinity. Morfeu, Trinity e Neo são uno e
trino ao mesmo tempo, próprio das trindades das diversas religiões. Não é só o
cristianismo que tem trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), na Grécia Antiga a
trindade era: Zeus, Poseidon e Hades, que simbolizam O Nous, Psique e Soma. No
Antigo Egito era: Osíris, Ísis e Hórus. No Hinduísmo é: Brahma, Vishnu e Shiva.
E assim vai...
Só que um dos acorrentados se sente incomodado com a
situação. Neo é esse acorrentado, que nasceu na Matrix. É o idealista, onde
Morfeu, seu mestre, apresenta a filosofia, que vem para proteger esse ideal. A
caverna, a Matrix, é o mundo da matéria em que vivemos acorrentados no
materialismo, e aquele que começa a se remexer da cadeira é o idealista. Então,
como Morfeu diz mais ou menos assim a Neo no filme: “Você veio a mim por que
sente que há algo de errado no mundo, não sabe bem o que, mas sente, como um
zunido no seu ouvido...”. Então, esse idealista começa a se remexer da cadeira
e sente que está acorrentado. Se você leitor, acorda e percebe que está
acorrentado, qual sua primeira reação? Se livrar das correntes. No filme,
quando Morfeu conta a verdade a Neo que vivia num mundo de sonhos, Neo entra em
choque e vomita e nega a afirmação de Morfeu, se mostra hostil. Morfeu fala que
depois de certa idade, não é aconselhável libertar uma pessoa, por que a mente
é difícil de assimilar assombrosa verdade. O que Morfeu quis dizer com isso é
que os jovens têm a mente mais aberta e a filosofia deve ser aplicava
inicialmente aos jovens de espírito, independente da idade, basta se é jovem de
espírito, e também deve ser aplicada aos líderes, pois são esses que são
capazes de mudar o mundo além dos jovens de espírito. Depois de certa idade, é
mais fácil viver uma mentira confortável e rejeitar a verdade. Quando esse
acorrentado começa a se sentir incomodado pelas correntes é visto pelos amigos
acorrentados como estranho, louco, mas o acorrentado não liga e começa a se
remexer ao ponto de perceber que está acorrentado.
Morfeu define o que é Matrix: “Matrix está em todo lugar:
está quando você vai ao trabalho, quando paga seus impostos, quando vai à igreja,
e até aqui mesmo nessa sala. Matrix é controle, é o mundo colocado diante de
nós para que não saibamos a verdade.” Depois Neo pergunta: “Que verdade?” E
Morfeu responde: “Que somos escravos Neo... vivemos numa prisão que não podemos
sentir, ver ou tocar: uma prisão para sua mente.” Se Platão reencarnasse hoje,
o povo ia dizer a Platão: “Veja que beleza Platão, hoje não existem escravos,
evoluímos...” e Platão responderia: “Nunca vi tantos escravos juntos!” Escravos
da mente.
Então, continuando... esse idealista começa a se remexer da
cadeira, e solta das correntes do pescoço e dos pés, e ver que toda as pessoas
das cavernas estão acorrentadas. A cena que se ver isso é a cena que Neo sai da
cápsula em que as máquinas mantinham seu corpo conectado a Matrix, e Neo ver
toda a humanidade em cápsulas conectadas a Matrix, com suas mentes presas,
assim como seus corpos. Então, ele tente avisar os amigos acorrentados das
correntes, da prisão, mas os amigos o olham como louco, pois vivem uma mentira
confortável. Então, depois de muita dificuldade, esse idealista escala o imenso
paredão íngreme até o topo da caverna e vai a saída. Esse processo pode durar
uma vida ou várias vidas, o mais comum e o que acontece com a maioria da
humanidade, é durar várias vidas. No meio do caminho da escala para sair da
caverna, existem vários caminhos e falsos atalhos que levam a perdição, misticismo
em excesso, seitas, e etc. Por isso Jesus diz: “Largo e espaçoso é o caminho do
ímpio, e estreito é o caminho do escolhido!” E Neo é esse escolhido. Depois que
ele sai da caverna ele ver as coisas iluminadas agora pela luz da verdade,
simbolizado pela luz do sol. Ver a natureza e alguns sábios. E bate um
sentimento de misericórdia e ele pensa na humanidade, em especial os amigos e
familiares, deixados para trás, e ele volta. Nessa volta, segundo Platão, surge
o político. São os que os hindus chamam de avatar, ou encarnação da divindade.
São os últimos homens que Nietzsche fala na sua Magnum opus “Assim
falou Zaratustra”. O último homem é o destino de todos os super-homens, e os
super-homens são os heróis, um elo entre nós, meros mortais, e a divindade. São
uma ponte. Exemplos de avatares: Buda, Jesus, Maomé, Krishna, Confúcio,
Lao-tsé, Moisés, Noé, Apolônio de Tiana, Hermes Trismegisto, Orfeu, Zaratustra,
e etc.
Numa das cenas, em que Morfeu leva Neo ao oráculo, antes de
entrarem no apartamento do oráculo, um cego acena para Morfeu. Demonstrando
assim que é cego para o mundo da matéria (Matrix), mas não é cego para o mundo
espiritual (que é simbolizado por Morfeu). Morfeu é a consciência que passou a
vida toda procurando Neo, enquanto Neo só foi o procurar nos últimos anos. Por
isso tem uma cena que Morfeu diz a Neo: “Você pode ter passado os últimos anos
me procurando, mas eu passei a vida toda procurando você”. A consciência é essa
que passa a vida toda nos procurando, se comunicando com nós através da vida,
dos sonhos, das pessoas... Tentando despertar o nosso eu espiritual adormecido
na matéria. Morfeu é um guia, e diz para Neo: “Eu só posso lhe mostrar a porta,
mas é você que tem que atravessá-la”. Morfeu quer dizer com isso que dar as
instruções, mas Neo tem que viver e tirar suas próprias conclusões. Tem que
caminhar. E quando se caminha, as coisas podem se tornar diferente do
planejado. Como diz Morfeu a Neo: “Com o decorrer da caminhada, você verá que
existe uma diferença em conhecer o caminho, e trilhar o caminho”. Na
continuação de Matrix, Matrix Reloaded, há uma cena em que Neo luta com o
protetor do oráculo, e esse diz a Neo: “Só conhecermos melhor uma pessoa depois
de lutar com essa pessoa”. Platão chega a dizer que se conhece melhor uma
pessoa em uma hora de jogo do que em um ano de conversa. Está ai o por que da
teoria do jogos, uma teoria da matemática, ser aplicada em campos das ciências
humanas, como na sociologia, ciência política, filosofia e psicologia. A teoria
das cordas, uma teoria da física, cai bem nas palavras de Morfeu em Matrix
Reloaded onde ele diz: “Aonde vocês vêem coincidência, eu vejo providência”.
Morfeu é aquele que crer na profecia que diz que Neo vai
colocar um fim na guerra contra as máquinas. A união de Neo com Trinity
simboliza a união do guerreiro com a sua alma. Tank chega a dizer que Morfeu
foi um pai para eles. O pai espiritual surge quando esse faz um sacrifício pelo
discípulo, e foi o que Morfeu fez. O pai espiritual está numa condição acima de
mestre por causa desse sacro-ofício, sacrifício. E Neo responde a essa atitude
indo ao que Tank considerava suicídio: salvar Morfeu indo invadir um prédio com
vários policiais armados até os dentes, e com três agentes que podem quebrar o
concreto e desviar de balas. Neo crer. E aquele que crer, ver, sem necessidade
da especulação da mente. E assim Neo e Trinity vão resgatar Morfeu. E conseguem
sucesso, e resgatam Morfeu. Pois o corpo, o guerreiro, o eu animal(Neo), e a alma, a artista, o eu humano(Trinity), não podem viver sem seu "eu espiritual", a consciência (Morfeu).
A cena final de Matrix foi belíssima. Neo morre na Matrix,
e ressuscita na Matrix, e ver a Matrix como ela é de fato. E é o amor de
Trinity por Neo que o liberta. Em Matrix Reloaded, Morfeu diz aos seus
companheiros de luta palavras guerreiras que muito bem poderiam ser aplicadas
na guerra contra a ignorância: “E se a guerra acabar amanhã, será que não vale
a pena lutar por isso? Será que não vale a pena morrer por isso?”. Já o diálogo
de Neo com o Arquiteto, têm haver com a teoria do eterno retorno de Nietzsche.
A simbologia do mito da caverna: a luz da fogueira são
nossos desejos. As sombras são nossas ilusões. As correntes são nossa
ignorância. Os amos da caverna, que não costumam aparecer, são os que controlam
a situação do estado dos acorrentados tirando algum proveito. Os acorrentados,
que tomam como realidade as sombras que vêem por que nasceram e cresceram nessa
condição... então, os acorrentados são a humanidade. O que se mexe da cadeira e
percebe que está acorrentado é o idealista. O que se liberta das correntes é o
filósofo. O que saiu da caverna é o sábio. O que volta para a caverna para
libertar os outros, é o político que Platão fala. O sol simboliza a verdade,
pois mostra as coisas como é de fato. E assim caminha a humanidade...
Autor: Victor da Silva Pinheiro
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