Machado de Assis e a Filosofia
Esse texto são
anotações minhas feitas durante uma palestra que assisti de uma filósofa. São
palavras dela e meu conseqüente desenvolvimento sobre o tema abordado.
Consideramos
Joaquim Maria Machado de Assis um dos maiores escritores de todos os tempos, e
também é considerado como o escritor brasileiro mais filósofo. Nasceu em 1839,
no Rio de Janeiro. Num contexto histórico em que a literatura e ciência
colocavam o homem como mero produto do meio, sem nenhuma chance de reação e
individualidade. Era mulato, bisneto de escravos, filho de um trabalhador
braçal, onde a mãe morre quando ele tinha 10 anos, e a partir daí é criado pela
madrasta que era lavadeira. Segundo algumas fontes, não freqüentou a escola
regular. Machado de Assis é a prova que o homem não é produto do meio, mas de
si mesmo. Ele era autodidata, aprende francês, inglês e alemão. Lia filosofia e
os clássicos, ainda jovem. Alguns biógrafos são difíceis de aceitar que Machado
de Assis construiu sua vida por esforço próprio.
O autor do livro
“Portões de Fogo”, Steven Pressfield, diz
que se uma pessoa decide reagir à inércia em que uma sociedade está mergulhada,
essa sociedade tende a ter essa pessoa como traíra. É como o filósofo Platão
fala no mito da caverna na sua magnum opus “A República”, em que ele diz que
algumas pessoas estão tão presas as correntes, que vão lutar para permanecer
acorrentados. É o que Morfeu diz a Neo no filme Matrix: “Muitas dessas pessoas
estão tão presas e ligadas a matrix, que vão lutar para permanecer conectados a
matrix. Não estão preparadas ainda para serem libertadas.” Machado de Assis
quase entra na vida política, mas retira sua candidatura ao perceber que seus companheiros
de partido eram idealistas superficiais, eram falsos idealistas, não tinham
ideologia.
Qualquer
capítulo do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” sempre tem alguma mensagem
especial ao ser humano. O autor de “Portões de Fogo” fala que antes de uma
batalha os generais espartanos eram aconselhados a não fazerem discursos
emocionantes, para não tirar o exército do estado de serenidade, e assim
lutarem melhor. Machado de Assis faz mais ou menos coisa semelhante na sua
obra, quando vai chegando perto do clímax da obra, ele diz alguma frase que
volta o leitor ao estado de serenidade. No conto da igreja do diabo, Machado de
Assis fala da dualidade própria desse mundo que vivemos. Os discípulos do
filósofo Pitágoras, os pitagóricos, eram aconselhados a sair pela cidade e
tentar achar o mínino de luz, de virtude possível nas pessoas e assim através
dessa luz, ascender à chama da sabedoria nessa pessoa. Pois, acreditavam eles,
que nenhuma pessoa é sombria por completo, sempre tem uma luz por menor que seja.
E assim os pitagóricos eram conhecidos por deixar um rastro de luz por onde
passavam. Talvez, para aquela pessoa abordada por um pitagórico, esse momento
fosse o momento único da vida desses que tinham a possibilidade de se
transformarem em pessoas melhores se enfocando em alguma virtude que tinham, em
alguma luz.
No conto da
simbologia do espelho, o espelho simboliza a sociedade que insiste em ti dizer
quem és, porém você pode estar no meio da multidão e se sentir só e o único que
pode dizer quem é você, é você mesmo. A pior solidão é quando você olha para
dentro de si mesmo e não ver nada, está vazio, e isso pode gerar pânico. Um
conto oriental que lembra a filosofia desse conto de Machado de Assis, diz que
um mosteiro estava se desmoronando, e os monges não tinham dinheiro para
reformar o mosteiro. Então o líder dos monges aconselhou eles a roubarem nas
cidades vizinhas e não deixar as pessoas verem o roubo, para preservar a boa
reputação do mosteiro. Mas um dos monges não fez isso por que disse que uma
pessoa sempre ia ver-lo roubar, e essa pessoa era ele mesmo. Ele foi o único
que entendeu a lição do líder dos monges. A moral da história. No conto da
sereníssima república, achamos que vamos mudar a sociedade só mudando a forma,
quando na verdade devemos ir além das aparências, além das formas, ir mais
profundo. Começamos a mudança em nós mesmos. Mude você, mude o mundo. E os
heróis estão ai para serem lembrados e imitados pelos jovens de espírito, e
assim tornar possível essa mudança. Hoje se muda as coisas, mas não muda o
homem.
Autor: Victor da Silva Pinheiro
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